A culpa não é da contabilidade. Ainda que a manchete apresentada na página B9 do jornal Valor do dia 23/1 (Contabilidade abala posição da Caterpillar na China) possa induzir o leitor a colocar a culpa de todos os recentes escândalos de baixas contábeis nessa “ciência sempre atrasada”, como ouvi outro dia de um rubro-negro provocador, pouco destaque é dado às verdadeiras origens desses fatos. Fica parecendo que os responsáveis pelas “baixas” são inspirados nos personagens Peter, Raymond e Egon do filme “Os caça-fantasmas”.

Todos devem concordar que os ativos que resultaram em “baixas” de US$ 14 bilhões na Rio Tinto, US$ 8 bilhões na HP e “modestos” US$ 580 milhões na Caterpillar foram comprados por valores irreais, seja pelo que chamo de “fraude de berço” (como parece ser o caso da Caterpillar), que tem relação com um passado de números fajutos da empresa chinesa adquirida e a chamada due diligence não identificou, ou seja pela “fraude de futurologia”, onde gananciosos CEOs, assessorados por igualmente gananciosos gestores de bancos de investimentos, conseguem projetar números fantasiosos para justificar compras dignas de capa de jornal, mas que tempos depois são desmascarados pela realidade dos fatos, ou seja, pela CONTABILIDADE. Ah, e ainda tem o caso de falha na execução de um projeto, como parece ter sido o caso dos US$ 4,2 bilhões da empresa da Graça Aranha – barbeiragem ao invés de fraude…

Considerando que nenhum desses verdadeiros vendedores de ilusões foi inabilitado acho que a mentira corporativa vai continuar rolando solta.

Resumindo: a culpa desses “pequenos” escândalos que não chocam mais ninguém é da falta de caráter de executivos que controlam grandes corporações, comprometidos somente com o próprio bolso.

Diante desse contexto não causa espanto a atitude do executivo do Barclays que, ao melhor estilo de senador alagoano/maranhense, resolveu dar uma cara nova do banco decretando que “as regras mudaram” e que os funcionários devem deixar o banco se não quiserem aderir a novos valores: respeito e integridade. Isso depois do bancão pagar multas de US$ 450 milhões pela acusação de tentativa de manipulação da taxa Libor e ver a renúncia de seu presidente-executivo, presidente do Conselho e vice-presidente operacional (publicado em “Barclays pede integridade a funcionários” no jornal valor de 18/1). Em tempo: até onde foi noticiado nenhum dos três cometeu o ritual conhecido como haraquiri.

Mas a mentira tem perna curta e a realidade dos números desmascara os calhordas, mais cedo ou mais tarde. E viva Frei Luca Pacioli !!!

Abraços a todos e uma boa semana,

Renato Chaves

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Baixas contábeis e integridade por “decreto”.

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