Turbulência econômica e Lava Jato aumentam a conscientização do empresariado sobre boas práticas de governança

O reforço da percepção de que é preciso mais transparência nos negócios foi uma das principais lições que o ano de 2015 trouxe para os empresários. As crises na economia e na política e os desdobramentos da Operação Lava Jato deixaram executivos em alerta, aumentar a busca por transparência nas relações com clientes, investidores, fornecedores e governos.

Para Camila Araújo, sócia da consultoria Deloitte, “percebeu- se que, quando há ruído na comunicação, é maior o risco de perda de participação no mercado e da confiança de consumidores e investidores, nacionais e internacionais”. Ela destaca a importância que a comunicação das empresas como mercado e com a sociedade adquiriu em um contexto de piora dos níveis de confiança.

Sócia do escritório Souza,Ceson, Barrieu & Flesch Advogados, Fabíola Cammarota considera a regulamentação da Lei Anticorrupção como o principal avanço: “À medida em que se implementam esses mecanismos, a governança se torna mais relevante”, diz.

Já para Roberto Di Cillo, sócio da Alceris Consulting, a verdadeira revolução foi trazida pela delação premiada, sem a qual não seria possível descobrir os esquemas de corrupção revelados pela Lava Jato: “Centenas de milhões de reais já foram recuperados em tempo recorde, e vale dizer que a um relativo baixo custo”.

Gastos. Os tempos de aperto também mostraram a importância de uma boa gestão do caixa, uma vez que o financiamento se tornou mais caro e, ao mesmo tempo, o nível de endividamento bateu recorde. Presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, Idésio Coelho vê uma mudança na visão quanto aos gastos nos negócios: “O grande legado do ano é justamente essa postura mais atenta a custos e mais exigente no cumprimento das normas, algo que já vinha evoluindo, mas ganhou mais força”.

OPINIÕES DOS LEITORES

Camila Araujo (Delloite) – Cenário desafiador vai deixar saldo positivo

camilaAraujoEmpresas estão mais conscientes da importância de divulgar informações de forma clara, pois é nítido o impacto que os níveis de transparência têm sobre os negócios, seja para o bem, seja para o mal. Percebeu-se que, quando há ruído na comunicação, é maior o risco de perda de participação no mercado e da confiança de consumidores e de investidores. Diversos setores da sociedade estão empenhados em estabelecer um cenário de ética e de transparência para o Brasil, começando pelas empresas, que já estão aprimorando seus processos internos e externos em termos de governança corporativa, pela implementação de instrumentos de conformidade. Com isso, a expectativa é que todos os acontecimentos recentes nos direcionem a um País mais ético.  

Roberto Di Cillo (Alceris Consulting) – A verdadeira revolução no combate à corrupção

robertoCilloPara quem acredita que a grande revolução de 2015 foi causada pela Lei Anticorrupção, essa opinião é significativamente contrária à ideia. Na prática, a Lei n. 12.850/13, que versa sobre colaboração premiada, foi o grande agente de mudança. Embora a colaboração premiada já existisse no direito brasileiro antes de 2013, foi a partir da lei que ela passou a servir como ferramenta no combate à corrupção. Com isso, os custos de investigação e sobretudo recuperação de ativos antes despendidos pelo Estado (e, naturalmente, onerando a sociedade) foram em muito reduzidos. Empresários devem estar atentos às modificações na colaboração premiada, para que as empresas das quais sejam sócios incorporem medidas eficazes que inibam a corrupção, independente de previsão expressa em lei. 

Fabíola Cammarota (Souza, Cescon, Barrieu&Flesch Advogados) – Implementação da Lei Anticorrupção é o maior legado

camilaCamarrotaA melhoria da governança corporativa é um processo constante e que se renova a cada nova norma editada. Trata-se de um processo irreversível e de construção progressiva, não sendo possível sair de um estágio inicial para o avançado de um dia para o outro. Com o aprimoramento do ambiente de negócios e ferramentas de investigação, o País procura seguir tendências mundiais e alcançar um nível de transparência compatível com seu mercado de capitais, ainda menos maduro que os da Europa e dos EUA. Mas à medida que se implementam mecanismos como a Lei Anticorrupção (12.846/2013) e são impostas consequências ao seu cumprimento, a governança passa a ter relevância cada vez maior. A regulamentação da Lei Anticorrupção, garantindo eficácia para sua aplicação e parâmetros claros ao seu alcance, é um dos legados de 2015. 

Edésio Coelho (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) – Empresários aprenderam a reduzir custos para sobreviver

edesioCoelhoO ano de 2015 trouxe lições para os empresários, principalmente em relação à transparência e à redução de custos desnecessários. Com a crise, as empresas passaram a cortar cada vez mais esses gastos em suas operações para preservar sua sobrevivência, seja abrindo mão de negócios que não são atividade principal ou demitindo. Um dos reflexos da Lava Jato foi também um despertar para a ética e para a transparência. As empresas estão cada vez mais atentas a funcionários, fornecedores e prestadores de serviços para evitar irregularidades, o que gera um efeito positivo em todo o mercado. O grande legado é justamente essa postura mais atenta a custos e mais exigente no cumprimento das normas, algo que já vinha evoluindo, mas ganhou ainda mais fôlego. 

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO – Terça-feira, 15 de dezembro de 2015 | ECONOMIA | B5

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